O neoliberalismo, que desvaloriza a vida, diante do desafio de proteger vidas

por Marcus Telles.

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Agora que a ficha caiu para muitos de nós sobre a urgência de impedir a disseminação do coronavírus, nos deparamos com uma notável dificuldade de ação de vários governos do mundo, hesitantes sobretudo em tomar medidas que prejudiquem a economia. Como circunstâncias anômalas revelam muito sobre o paradigma dominante, algumas reações podem ajudar a ver pressupostos naturalizados, embora não tão ocultos, de nossos tempos. Para começar pela ignorância óbvia de que, como somos seres incorporados, de tempos em tempos teremos que lidar com questões públicas de saúde, e cada vez mais em escala global. Isto é, é previsível que o imprevisível ocorrerá.

O texto aqui, obviamente, não é de epidemiologia e áreas afins (para isto, ver aqui, aqui, aqui e aqui). É um comentário sobre como a atual crise revela alguns aspectos desse projeto político surgido no interior do capitalismo que chamamos de “neoliberalismo”. Para fins de análise retórica (cada um brinca de Erich Auerbach como pode), sugiro aos leitores (taparem o nariz e) verem essa fala de 14 segundos – mas que concentra toneladas da mais completa idiotice e irresponsabilidade – dita por Jair Bolsonaro no dia 10/03, sobre o coronavírus: https://bit.ly/2U4bYdW

Em vez de gerar aversão (o que é fácil, e eu senti forte), melhor analisar essa fala para ver qual bolha de realidade a sustenta – e apontar alguns aspectos do quanto ela é danosa pras nossas vidas. Em vez da pessoalização (“meu deus do céu, que idiota!”), coloquemos a pergunta pelas condições de possibilidade (“o que tornou possível confiarmos o principal cargo do executivo a alguém que manifesta tanta estupidez?”). Afinal, algo que fica tão patentemente nítido quando visto em forma antropomórfica já está prefigurado na forma de toda uma cultura que se manifesta neste caso particular. Assim, muitas das idiotices presentes ali são manifestações de estratégias necessárias para jogar o jogo político e econômico da atmosfera neoliberal. Tem muito ali nesses catorze (longos) segundos.

Primeiro, uma coisa que a gente precisa entender é que, quando um presidente vem a público dizer que o coronavírus é “uma pequena crise”, “muito mais fantasia”, que “não é isso tudo que a grande mídia propala ou propaga pelo mundo todo”, isso tem consequências no mundo real: pessoas vão morrer por causa disso. Podemos nos propor sempre tomar os seres como norte: em vez de entrar em guerras de narrativa para sustentar identidades, podemos nos perguntar pelo impacto que as políticas que apoiamos terão sobre seres humanos e não-humanos, próximos e distantes, no curto, médio e longo prazo.

Não é isso que ocorre no atual cenário: além de nos distrairmos com o reality show dos Trumps e Bolsonaros (e Dorias), uma parte considerável de nossa cultura presume como “realistas” índices como o PIB, o “Mercado”, os indicadores equivocadamente presumidos como neutros. No primeiro caso, se manifesta um vício em produzir representações, imagens, narrativas, e ignorar os referentes. Mas alguns feedbacks da realidade são mais difíceis de ignorar que outros: as consequências da crise econômica ou da crise climática são mais suscetíveis a discursos mentirosos ou negacionistas do que um vírus. Mesmo a pessoa que num dia coloca 210 milhões de pessoas em risco com seu negacionismo está sujeito a, apenas dois dias depois, fazer uma live usando máscara, ter um funcionário próximo infectado e estar ele próprio em risco. Você pode narrar as coisas de um jeito que confunda as pessoas sobre as conexões entre causas e efeitos, mas não pode eliminar alguns tipos de causas e efeitos apenas contando histórias fantasiosas sobre elas. Bolsonaro explora a figura do troll, mas não é possível trollar o coronavírus.

Em suma, discursos fantasiosos sobre a realidade são impotentes para agir em relação com a realidade, porque nunca nos permitem estabelecer a conexão entre nossa mente e os processos que gostaríamos de afetar. O que é outra forma de dizer que, no nível da mente, apenas se nos permitimos ser afetados por eles podemos também afetá-los. O movimento da realidade para nós vai acontecer de qualquer jeito, a questão é se saberemos reconhecê-lo para responder ou não. O negacionismo às vezes ganha alguns jogos imediatistas no plano horizontal da retórica intersubjetiva, mas está sempre condenado a ser ineficaz no longo prazo.

Quanto ao privilégio do Mercado abstrato sobre as pessoas reais, tomamos as pessoas como meros motores ou obstáculos da maquinaria toda, que anda sempre acelerada. Quem consegue acompanhar é temporariamente acolhido, enquanto seu corpo impermanente permitir; crianças, doentes, deprimidos e velhos são obstáculos. Como há seres reais, com mentes incorporadas, sustentando o jogo das abstrações, é compreensível que sua experiência do tempo seja, frequentemente, como a de andar sobre uma esteira em movimento: uma combinação de rapidez alucinatória e estagnação.

Segundo, reparem que há um momento do vídeo em que Bolsonaro fala “no meu entender”. Não é só aqui, em muitas outras situações os governistas usam uma retórica em que a autoridade última é a visão do presidente, qualquer que seja seu embasamento na realidade. Então há junto uma variante mais local e mais pessoal de autoritarismo que não é necessariamente a do neoliberalismo, ele próprio autoritário. Ainda assim, aqui se manifesta a tendência contemporânea de rejeição da autoridade da ciência, do jornalismo, de todas as formas de mediação, substituídas pela ideia de que é possível ter um “entender” baseado unicamente em experiência pessoal.

Essa crise de autoridade das fontes tradicionais de conhecimento nas últimas décadas tem sido bem estudada e, em vez de produzir ceticismo saudável, tem sido explorada para a veiculação de conspirações de todo tipo, sobretudo aquelas que tomam minorias ou a esquerda como bodes expiatórios. Quando tudo está confuso, é muito tentador achar explicações simples que valem para tudo. Quando elas ativam e refiguram ressentimentos e outros afetos já pré-existentes, incluindo aí os afetos tristes, se tornam quase irresistíveis, e a sociedade brasileira estava cheia deles a demandar por representação. A estratégia de ataques diários ao jornalismo (“bananas”, acusações sexuais, machistas, homofóbicas, uso de bots, etc.) é consciente para alimentar essa atmosfera e exercer o poder sem qualquer forma de mediação ou prestação de contas.

(A Letícia Cesarino tem ótimos artigos sobre o tema.)

Terceiro, há o padrão de ataque às instituições públicas, sobretudo o SUS e as universidades, narrativizados como lugares respectivamente de ineficiência e de balbúrdia. (Como se o que há de ineficiente no SUS, e evidentemente há, não fosse parte do projeto de descaso ou desmonte. Mas isso não pode nos fazer perder de vista que uma visão coletiva e solidária de saúde é infinitamente superior à barbárie de abandonarmos cada um por si e pensarmos até mesmo a saúde das pessoas em termos de lucro apenas.) O que motiva esses ataques é a estratégia de desmantelamento da própria ideia de “sociedade” e de sua total subordinação ao mercado (por exemplo, aqui, aos planos de saúde e conglomerados de educação), a quem os governos servem na prática.

E aí temos essa situação: o que a pandemia mostra é que o social (cf. Wendy Brown, essa esfera da produção do comum entre os diferentes situada entre o individual e o estado) não pode ser negligenciado sem que as consequências sejam graves. Mostra que o social deve ser ativamente nutrido, que não é possível pensar a saúde pública como uma questão de indivíduos, que nosso bem-estar é inseparável do bem-estar de todos os outros e também a nossa responsabilidade não é apenas com a nossa própria saúde. (No já tradicional momento “não vi mas achei foda”, me disseram que o Bruno Torturra falou coisas importantes nessa direção em sua última live.) E que a (essa sim) “fantasia” neoliberal do desmonte – grosseiro e sutil – de tudo que é público, essa fantasia violenta, nos deixa totalmente incapazes de receber os feedbacks da realidade, que não se submetem às guerrinhas de narrativas ou às fake news de Whatsapp. Dinâmica semelhante nos impossibilita de agir diante da catástrofe climática ou das altas taxas de sofrimento psíquico.

Então, por favor, entenda isso: quando você repete discursos estúpidos sobre as universidades e a saúde pública, você está endossando uma estratégia que visa tirar os seus direitos (de saúde, educação, trabalhistas) e transferir a renda gerada pelo seu trabalho para o topo do topo da sociedade. (E, claro, nem todo discurso estúpido é facilmente identificável. É difícil ver a dinâmica toda de processos complexos. Mas tenha em mente que por isso mesmo há um bombardeamento grande da legitimidade de quem pode te ajudar a ver, como as pessoas que pesquisam ciências humanas e sociais. Talvez seja o caso de desconfiar na próxima vez que vir certas autoridades deslegitimando saberes científicos, nessas áreas ou em todas as outras.)

Esse ataque à ideia de interdependência e de qualquer solidariedade possível alimenta um certo ciclo de deslocamento de responsabilidade: você se ressente pela sua vida estar precarizada, mas direciona a culpa a outros grupos tão ou mais explorados e não àqueles que efetivamente avançam o projeto de precarização. Assim, o seu ressentimento (ou raiva, ou outra coisa) é usado para te explorar mais ainda. Você vai culpar as cotas, o Bolsa Família, os jornalistas, as bolsas de pesquisa, vai ter uma raiva compreensível dos “políticos corruptos”, e por tabela vai acabar se rendendo ao próprio “Mercado” ao qual a política está inteiramente a serviço. Inclusive porque estamos falando de emoções, é um tanto mais difícil – mais demandante do nosso poder de pensar abstratamente – lidar com entidades sem rosto.

Essa lógica não-humana à qual estamos nos curvando é inseparável de uma visão de mundo subjacente, segundo a qual, para dizer brevemente: a vida das pessoas não vale muito – alguns mais, outros menos, na média muito pouco -, exceto como força motriz para uma entidade abstrata. Obviamente, não tem como essa visão nos equipar para proteger vidas. Vamos conseguir agir em alguma medida porque toda bolha tem brechas, porque temos tanto compaixão quanto medo de morrer, mas quanto mais real o delírio neoliberal nos parecer, mais impotentes estaremos.

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Ô gente, desculpa aí, eu tenho uma preguiça danada de procurar ilustração pros textos. Sugiro você olhar esse videozinho aqui pra dar um respiro. 😉 Mas volta!

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Toda forma de “realismo” – toda “bolha de realidade”, aquilo sobre o que falamos ingenuamente: “o mundo é assim mesmo” – tem pressupostos sobre “o que realmente importa”, prescrições sobre o que fazer com a nossa atenção, no que investir nossa libido, hierarquizações até mesmo de vidas e sofrimentos, sanções quando algumas de suas normas não-ditas não são cumpridas. Toda visão de mundo tem uma cegueira de mundo correspondente, e o que o neoliberalismo nos impele a manter nessa zona de desatenção ou irrelevância é a senciência dos seres. No mínimo, como é uma visão de mundo marcadamente individualista, somos convidados a manter nessa zona os seres que não são eu. E, ora, para cada um de nós, a maioria dos seres não é eu.

Assim, no fundo da nossa atual forma dominante de ler o mundo, estão alguns pressupostos básicos que são uma receita pronta para o sofrimento coletivo:

(a) a vida da maioria das pessoas não importa senão como motor da economia, essa sim “real”;
(b) essas pessoas são apenas indivíduos e não parte de uma sociedade, de um organismo vivo, de uma rede interdependente, e portanto não devem organizar coletivamente formas de garantir saúde, de cuidar dos filhos, de se transportar: cada um deve garantir o seu. (Somos convencidos a olhar com desconfiança até mesmo para a produção de sujeitos coletivos, a desconfiar de manifestações, etc.)
(c) como focamos muito abstrações e pouco nos seres, não conseguimos lidar com o fato de que os corpos se cansam, dormem e/ou sofrem com consequências da falta de sono (ver 24/7, de Jonathan Crary), se deprimem, adoecem, morrem. Isso fica patente quando nos vemos diante de algo que não se encaixa no jogo, como uma pandemia, e demanda que o mercado – dependente de constante movimento – pare por algum tempo. Em outro nível, como algumas pessoas disseram no Twitter, os trabalhadores precarizados sequer têm condições de parar de trabalhar, e isso vai ter consequências tanto para a disseminação do coronavírus quanto para a vida dessas milhões de pessoas.

Sobre (c), é útil lembrarmos da contingência de toda forma de realismo: não é fixo o quanto focamos nos seres e o quanto ontologizamos nossos jogos. Algo em nós sempre desconfia da aparente solidez, algo em nós aspira pela própria felicidade e se interessa genuinamente pela dos demais. O presente texto não trata de arriscar nenhum prognóstico sobre a medida exata em que as regras artificiais do jogo vão nos limitar. Então não é que a cegueira dos esquemas cognitivos nos torne totalmente cegos, ou que nossa usual apatia nos torne incontornavelmente apáticos, que não haja margens de agência e devamos sucumbir à melancolia. Mas eu registraria que, mesmo diante da sensação de urgência que provavelmente sentiremos, os hábitos cognitivos, emocionais e conativos que adquirimos interferem diretamente na nossa capacidade de ação. (O caso da catástrofe climática me vêm à mente uma vez mais.) Na ausência de clareza, é muito fácil que a urgência vire pânico ou que, num contexto em que cada dia de contenção do avanço do vírus importa, um tempo precioso seja perdido pelo medo do impacto econômico de certas decisões. É óbvio que o negacionismo dos Trumps e Bolsonaros da vida passa por essa preocupação. Além disso, as manifestações já materializadas e institucionalizadas da visão neoliberal não podem ser desfeitas da noite para o dia: os preços insanamente altos cobrados nos Estados Unidos para tratamentos médicos ou os baixos investimentos em saúde pública no Brasil são exemplos.

A conclusão pode soar quase bobinha, mas é que estamos vendo o mundo – e adotando políticas – incompatíveis com os fatos básicos de que (1) adoecemos e (2) existimos em rede. São fatos básicos da vida, e não é opcional se harmonizar com eles.

Referências

Brown, Wendy. In the Ruins of Neoliberalism: the rise of antidemocratic politics in the West. New York: Columbia University Press, 2019.
Brown, Wendy. Resisting Left Melancholia. boundary 2, v. 26, n. 3, 1999, pp. 19–27. (Disponível também aqui.)
Cesarino, Letícia. Como vencer uma eleição sem sair de casa: a ascensão do populismo digital no Brasil. Internet & Sociedade, v. 1, n. 1., 2020.
Cesarino, Letícia. Identidade e Representação no Bolsonarismo. Revista de Antropologia, v. 62, n. 3, dez. 2019, pp. 530-557.
Cesarino, Letícia. “Pós-verdade: uma explicação cibernética. Ilha – Revista de Antropologia. No prelo. Este e os demais artigos estão disponíveis em: https://ufsc.academia.edu/LeticiaCesarino.
Crary, Jonathan. 24/7: Capitalismo tardio e os fins do sono. São Paulo: Cosac Naify, 2014.
Fisher, Mark. Capitalist Realism: is there no alternative? Winchester: 0 Books, 2009.
Hari, Johann. Lost Connections: uncovering the real causes of depression – and the unexpected solutions. New York: Bloomsbury, 2018.
Macy, Joanna & Johnstone, Chris. Esperança Ativa. Rio de Janeiro: Bambual, 2020. (Parte da equipe aqui do podcast e mais um monte de amigos queridos participou da tradução!) (Se é que tem coisa mais neoliberal que fazer marketing na seção de referências…) (E fazer piadinha, usando ironia pra gerar um afastamento e não assumir a responsabilidade…)
Mirowski, Philip. Hell Is Truth Seen Too Late. boundary 2, v. 46, n. 1, 2019, pp. 1–53.
Thich Nhat Hanh. Interbeing: Fourteen Guidelines for Engaged Buddhism. Berkeley: Parallax, 1987.

O termo “bolha de realidade” é usado pelo Lama Padma Samten e, apesar de minha compreensão ser muito limitada, tenho achado bastante útil pensar em “atmosferas” históricas específicas com base em tudo que ele diz sobre prajnaparamita.

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comentários
  • Acompanho este podcast com extrema alegria, sendo ele algo que muito contribui para meu modo de pensar e agir estar a cada dia, mais “confortável” para mim.
    Li seu texto e dá para sentir a sua ira, (sua necessidade de usar termos e palavras agressivas)…
    Somente não sei se causada pelo medo ou pela impotência frente as realidades…
    Sinto que está difícil presenciar o mundo todo, (não digo nós, o Brasil, ou os ocidentais… todos que neste planeta residem), não terem respostas ou não saberem com algum grau de segurança, o que fazer frente essa crise.
    É assustador não conseguirmos encontrar uma única autoridade mundial de qualquer patente, que venha a público com uma solução e atitudes seguras. As realidades vão mudando… as atitudes sempre tem consequências difíceis e optar e assumir tais responsabilidades é assustador.
    Estamos conectados, somos um só, as cidades (principalmente as metrópoles) necessitam que os motores que a sustentem funcionem e continuem a funcionar, para que não entremos em um caos fatal.
    Quem conseguiu, e optou por abandonar isto, e foi viver autosustentalvelmente em um confim de mundo qq, ok, pode optar pelo que fazer, escolher ficar lá até tudo “passar”.
    Mas quem mora em metrópolis ou em cidades, depende dos outros. Dependemos de pessoas que nos tragam víveres… Dependemos de outras que cuidem de nossos avós, e de outros mais, que cuidem de nossos filhos e escolas, que mantenham a água vindo nos canos, a energia elétrica em nossas tomadas….
    É assim que vivemos… é nessa interdependência que estamos.
    E é assustador não sabermos o que fazer e como proceder para esse mundo nosso, cheio de defeitos, lotados de imperfeições e injustiças, funcione amanhã….
    Entendo sua ira…
    Entendo sua necessidade de lutar contra um monstro e se sentir “agindo”… “ativo e atuante”…
    Escolhendo uma figura, e a ela jogar todas as facetas do que ha de ruim no mundo.
    Deve ser difícil assumir que nós, todos nós, somos responsáveis por estarmos nessa insegurança. Que o que está ai é fruto de anos … muitos anos de existência nossa, e de nossos irmãos e irmãs.
    É doloroso pensarmos que na busca do ótimo, abandonamos o bom ou o razoável, por prepotência, muitas vezes fomos “cabeça dura” e optamos por saídas que nos trouxe isto. E agora está difícil conviver com as consequências de nossas opções.
    Mas a crise está aí.
    Somos, todos nós, responsáveis por ela e por termos o mundo como ele é.
    Em algum momento desfrutamos das vantagens trazidas por realidades de mundos contra os quais lutamos, e assim somos e fomos no mínimo coniventes.
    Sejamos contempladores dos nossos atos do passado, e olhemos nossas opções e nossas escolhas, e encontraremos centenas de atitudes que tomamos para ajudar o destino a nos colocar nesse quadro.
    Assim, talvez seja muito interessante analisarmos o que poderemos fazer e discutir e mudar para demonstrar ao destino que compreendemos a lição, ou parte dela…
    É, posso estar errado, pois sou novato nessa área de pensar e refletir…. mas com certeza, veremos que sempre que focamos nossas energias em nosso ódio , estamos nos distanciando da solução…
    que sempre que descobrimos “o cara” o “grande responsável por tudo” ou “os menos privilegiados mentalmente que não o odeiam como nós odiamos esse grande inimigo” , estaremos criando no mundo a razão e o motivo das coisas estarem como estão …
    É, talvez esse “cara” seja apenas uma pecinha do tabuleiro, tão útil e fragil ou quase igual a você ou a mim…
    A crise que está surgindo é grande… não sou futurologo ou médico ou economista… mas minha pele se arrepia ao pensar….
    E te compreendo…
    Também estou assustado…
    Todos nós não sabemos o que fazer…
    É difícil passar por momentos de dor, vivendo realidades que lutamos para não existir, mas que nossa interdependência nos faz viver.
    Não sou um ser graduado na área de pensar e refletir… mas o que me motivou a chamar à luz este seu texto, foi notar tanta raiva e ira, ler palavras e termos e adjetivos tão difíceis, ver tantos julgamentos. E, por ser este podcast um local de mudanças e construções, mas sempre baseados na compaixão e na empatia…
    Faço um pedido…
    Poderíamos ver seus pensamentos igualmente defendidos de um modo mais próximo ao que este podcast tanto propaga e acredita?

    • Fala, querido!
      Obrigado pelo feedback 😉

      Eu estou tateando, mesmo, sobre o tom certo pra usar em relação a figuras como Bolsonaro e Trump. Não escrevi esse texto sem pensar um pouco a respeito, também.

      Vou dividir o que tenho pensado a essa altura: não é compassivo deixar de nomear as coisas pelos nomes justos. Alguém que ataca ativamente a ciência e instituições democráticas, que age como criança na crise mais grave que vivemos em muito tempo, está agindo como um idiota sim. E não é a primeira, nem a segunda, nem a milésima vez. Como comunicar isso é uma questão, e não é que eu saiba fazer.

      É pouco compassivo não nomear. Acho isso. Não seria lúcido pessoalizar o problema, ver quem quer que seja como uma figura estática, e também não é compassivo veicular ódio. Mas não vejo no texto esse tanto de ódio que você vê, não.

      Para comentar agora dois pontos mais específicos da sua fala:

      1) “Escolhendo uma figura, e a ela jogar todas as facetas do que ha de ruim no mundo.”
      Se você der uma relida, vai ver que o texto faz exatamente o oposto do que você está dizendo. O argumento vai o tempo todo dizendo: sim, a fala é idiota, mas há uma estrutura que possibilita e potencializa esse idiotice. E o texto busca descrever essa estrutura. Deixa bem claro que não adianta pessoalizar.

      2) “É assustador não conseguirmos encontrar uma única autoridade mundial de qualquer patente, que venha a público com uma solução e atitudes seguras.”
      Não, cara, os/as cientistas estão sendo muito claros sobre o que deve ser feito, tanto no caso do corona quanto nos outros. Mas governos como o brasileiro e o norte-americano estão há anos silenciando-os, cortando verbas, tomando medidas irresponsáveis, dando declarações irresponsáveis, inventando fake news (“balbúrdia”, assassinato de reputações, etc.), com estratégias de baixíssimo nível mesmo.

      Mas enfim, estou mesmo tateando quanto ao tom ideal.

      Abração!
      (É o Marcus aqui)