# 58 O bem-estar como habilidade | Propósito

Seres de todos os reinos, chegamos com o primeiro episódio da nossa nova série, “O bem-estar como habilidade”. 

Estamos começando essa série de episódios inspirados por uma fala do Dr. Richard Davidson no podcast do Mind & Life em que ele afirma que, atualmente, existem conclusões inegáveis vindas da ciência de que o bem-estar é uma habilidade que podemos cultivar. E, como tanto discutimos aqui, sabemos que isso não é só corroborado pela ciência moderna mas também pelas tradições contemplativas há milhares de anos.

Vemos muita potência nessa afirmação, já que nos lembra que temos agência no modo como as relações, pessoas, situações, experiências surgem para nós. Nada está simplesmente dado, tem coisas que podemos fazer diante de tudo o que nos acontece para caminhar rumo a uma felicidade mais genuína, a um bem-estar mais livre, menos dependente das circunstâncias. 

O objetivo dessa série, então, será abordar quatro diferentes eixos ou pilares de práticas apontados, tanto pela ciência quanto pelos contemplativos, como essenciais para esse cultivo do bem-estar. São eles: Propósito, Consciência, Conexão e Insight. Estes termos são uma tradução livre nossa da linguagem utilizada no programa Healthy Minds para apresentar esses pilares (o Healthy Minds é um programa que foi criado pelo próprio Richard Davidson e outros cientistas, como Cortland Dahl, ambos grandes praticantes e alunos do Mingyur Rinpoche). Nosso objetivo não é explicar nem apresentar esse programa em si, mas sim utilizá-lo apenas como inspiração e ponto de partida, especialmente porque outros programas também seguem basicamente a mesma estrutura, como é o caso do Cultivating Emotional Balance e outros.

No episódio de hoje, vamos focar no primeiro pilar, “Propósito”. 

Culturalmente, falamos muito em propósito, mas muitas vezes de formas superficiais e individualistas, como nas reflexões sobre encontrar um propósito no trabalho. No entanto, acreditamos que isso não precisa ser motivo para descartarmos a importância de pensarmos o propósito sob perspectivas diferentes e mais amplas.

“Propósito”, aqui, se refere a termos um senso de clareza em relação às nossas motivações e desejos mais profundos, aos nossos valores pessoalmente significativos e a conseguirmos aplicá-los no cotidiano. 

O propósito é um componente importante dos modelos científicos influentes de bem-estar e é central para as perspectivas de florescimento humano nas tradições contemplativas. O propósito molda nossas narrativas pessoais e está associado a uma série de resultados relacionados ao bem-estar psicológico e à saúde física. Mas, simplesmente falar e ler isso não basta. Precisamos contemplar como isso se aplica na nossa própria experiência em primeira pessoa. Foi isso o que tentamos fazer na conversa.

Buscamos abordar como essa reflexão sobre encontrar um “propósito” ou sentido para a vida surgiu para cada um de nós, a importância desse pilar e sua conexão com o cultivo do bem-estar, potenciais obstáculos, armadilhas e dificuldades que podemos enfrentar ao tentar praticá-lo e que contemplações e práticas têm nos ajudado nesse caminho. 

Deixamos, ao final, uma sugestão de contemplação relacionada a esse pilar, para cada um fazer no seu próprio tempo.  Além disso, no nosso site, na página desse episódio, listamos algumas referências para quem quiser se aprofundar.

Esperamos que aproveitem o papo o tanto que curtimos gravar e que o que falamos seja benéfico ou um apoio de alguma forma para o caminho de todos vocês.

Caso queiram nos apoiar: estamos lá no apoia.se/coemergencia.

Temas discutidos no programa

06:17Em que momento da vida começamos a refletir sobre o propósito? 27:13Como a busca por sentido se conecta com a busca pela felicidade pra você? 38:28Exemplos pessoais de experiências marcadas pela busca de sentido. 57:01Como a gente tem feito pra produzir sentido nesse momento de isolamento? 96:46Que exercícios ou práticas poderíamos fazer para cultivar ou localizar esse sentido em nossas vidas?

Prática sugerida

Vamos agora para uma breve contemplação relacionada ao propósito. Você não precisa mudar nada do que esteja fazendo. Nós vamos praticar mudar um pouco a nossa atitude, para vermos as coisas de um jeito diferente. Como vamos refletir ao longo da prática com algumas perguntas, melhor que o que estejamos fazendo agora seja uma atividade simples, que não exija muito foco.

Podemos iniciar relaxando o corpo, soltando qualquer tensão, mesmo em meio ao que quer que estejamos fazendo. Podemos levar a consciência para o corpo, notando os movimentos que estivermos fazendo, sem que isso pareça ser uma grande coisa. Simplesmente levamos a consciência para o corpo todo, e notamos as sensações que surgirem. Seguimos respirando naturalmente, sem controlar ou tentar modificar a respiração. 

Partimos, então, para uma reflexão simples: vamos notar o quão importante este exato momento é. Ele é tudo o que nós realmente temos. Nós não sabemos o que o futuro reserva para nós, então solte as grandes perguntas e se pergunte apenas: como eu quero viver este momento, este exato momento? Que qualidades quero oferecer para mim mesmo e para os outros neste exato momento? Como posso viver este momento de forma a seguir o meu desejo mais profundo de ser feliz, de ficar bem e de evitar o sofrimento? Note o que surge quando você se coloca essas perguntas.

A habilidade aqui é mudar a nossa perspectiva a respeito do aparentemente mundano.  Tudo o que você precisa fazer é se lembrar disso em pequenos momentos ao longo do dia: “Este poderia ser o meu último momento. Como eu quero vivê-lo?”. Perguntar para si mesmo essa questão vai naturalmente mudar a sua perspectiva, você não precisa fazer mais nada, simplesmente faça a pergunta e siga.

Agora, solte qualquer contemplação e simplesmente relaxe. 

Na medida do possível, a gente pode lembrar de trazer essas perguntas para nós mesmos ao longo do dia. Pausamos por uns instantes, refletimos, vemos o que surge e, então, seguimos, independentemente do que estejamos fazendo.

Aprofunde!

  • Vídeo (em inglês) do professor Alan Wallace sobre como cultivarmos desejos e intenções com sabedoria;
  • Nosso (primeiro episódio) com Gustavo Gitti, “Como viver uma vida com sentido”;
  • Artigo de Cortland J. Dahl, Christine D. Wilson-Mendenhalla e Richard J. Davidson sobre a plasticidade do bem-estar e sobre os quatro pilares relacionados ao seu cultivo (Consciência, Conexão, Insight e Propósito). O artigo está em inglês;
  • Livro “Em busca de sentido”, de Viktor Frankl, ao apresentar as bases da “logoterapia” e relatar a importância de encontrarmos um “propósito” ou “sentido” para a nossa vida;
  • Livro “Nas ruínas do neoliberalismo”, de Wendy Brown, que, ao explicitar a desarticulação neoliberal do “social”, ajuda a entender um pouco da dimensão coletiva de nossa crise de sentido. É um livro mais indicado para pessoas com familiaridade nas ciências humanas.
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